
TEXTO: ALINE LEQUE, MARI GARCIA, RAIMUNDA RODRIGUES, WAGNER JEAN E WILL SOARES
FOTO: WAGNER JEAN
Do picadeiro às injustiças sociais, significados e deturpações do artista circense
Palhaço: “Artista que, em espetáculos circenses
ou em outros, se veste de maneira grotesca e faz piadas para divertir o público” ou “pessoa que só diz tolices ou faz papel ridículo; pessoa sem importância”, tais significados foram extraídos do dicionário Aurélio. Definição contrastante para uma das atrações mais antigas do circo.
Com o passar dos tempos, a figura do palhaço vem se demonstrando bastante contraditória na sociedade. Do picadeiro às ruas, dos palcos de teatro às injustiças sociais. Por vezes, vemos esse personagem ganhar um destaque a mais na mídia, seja por meio dos espetáculos circenses e cênicos ou por manifestações, como, por exemplo, a dos policiais civis de São Paulo em setembro do ano passado que reivindicaram reajuste salarial.
A história desse personagem, conhecido nos Estados Unidos como Clown, se perde com o passar dos anos. Segundo informações do site O Malabarista, a figura do palhaço é conhecida há aproximadamente quatro mil anos e como destaca os integrantes do grupo Flor e Espinho “o palhaço sempre serviu como um contraponto político”, lembrando dos tempos em que o bobo da corte era o único que poderia fazer severas críticas ao rei sem ser decapitado.
Em Mato Grosso do Sul, diversos grupos se empenham em realizar espetáculos com a figura circense mais adorada pelas crianças, dentre eles está o grupo Circo do Mato, que já participou do Festival América do Sul, Festival Pantanal das Águas, Circuito Sul-mato-grossense de Teatro e da I Mostra de Palhaços de Campo Grande.
Conflito
Manifestos públicos, como o organizado pela Escola de Samba Mancha Verde no desfile das campeãs do carnaval de São Paulo deste ano e do Sindicato dos Jornalistas de Mato Grosso do Sul (Sindjorms) no dia 31 de março, em defesa da obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão, em que manifestantes utilizavam um nariz de palhaço simbolizando indignação e revolta, ajudam, ainda mais, para deturpar a imagem do artista circense. Esses movimentos geram profunda indignação nos artistas que trabalham com esse personagem.
A imagem do palhaço, que inicialmente era vista como o crítico político que de forma irreverente apontava todas as falhas do governo, em ações públicas passou a ser aquela pessoa que foi deixada de lado ou passada para trás. A utilização do nariz “mágico” vermelho deixou de ser irreverente e positivo para se tornar uma espécie de condição subumana.
Uma incoerência nessa história é que, apesar do palhaço ser visto e descrito como uma pessoa sem importância que faz papel de ridículo, sempre que há uma articulação que objetiva causar revolta e inquietude diante de uma situação, o personagem circense é o primeiro a ser lembrado para participar desse protesto. Será que as pessoas que se utilizam dessa imagem conhecem o real significado do “ser” palhaço?
Para o integrante do grupo Circo do Mato, Arce Corrêa, isso acontece pela falta de conhecimento. Se as pessoas fossem mais aos teatros e aos circos, aí sim conheceriam o que verdadeiramente é ser palhaço. “É um ser que tem o poder de transformar as dificuldades com sua inocência e maneira de fazer, torna aquilo grandioso no sentido do bem-estar. Mudando tudo que é ruim com brincadeiras e alegrias para quem assiste”.
Para os atores do grupo Flor e Espinho “ser palhaço é ser você mesmo, mas sem hipocrisia”, afirmação mais do que correta para definir o personagem, que por vezes é taxado de tolo e tratado como se estivesse representando uma condição degradante.