Por: Inayá Borba
“Aumenta aí, aumenta aí!”, as pessoas, que agora pararam totalmente com o que estavam fazendo, pediam insistentemente.
Parecia mais uma noite de janta com a família na Feira Central. Barulho de garfos, pratos e pessoas conversando soavam com monotonia. Uma garçonete cuidava a pequena televisão disposta estrategicamente à frente da cozinha. De repente, toca aquela música do Plantão da Globo, aquela que antecedeu grandes tragédias que sempre causa certa inquietação e curiosidade nos telespectadores. No meio do silêncio formado pela expectativa das pessoas, soa a voz formal de William Waakc. “Corre aqui!”, fala sussurrando e gesticulando energeticamente para o amigo a garçonete, que agora já estava colada na televisão.
“Aumenta aí, aumenta aí!”, as pessoas, que agora pararam totalmente com o que estavam fazendo, pediam insistentemente. Quando a voz do juiz Maurício Fossen lendo a decisão dos jurados surgiu em meio ao silêncio dos jornalistas, a moça que ia dar a garfada se posicionou para ouvir melhor. “O ventilador atrapalha!”.
“O juiz Maurício Fossen está começando neste momento no fórum de Santana em São Paulo a leitura da sentença de Anna Carolina Jatobá e Alexandre Nardoni”. Três pessoas se levantaram para ouvir melhor o juiz. Nunca imaginei que a feira pudesse ficar tão silenciosa. Nas outras barracas, até os cozinheiros já fritavam e coziam displicentemente. Pernas inquietas, cabeças estáticas. O som da TV realmente não ajudava.
O silêncio se intensificou quando apareceu a foto de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá juntamente com as palavras “Leitura da sentença do caso Isabella” em destaque. Após uma breve fala do juiz que não interessava nem um pouco as pessoas ao redor que só resmungavam “anda logo...”, o juiz ter dito “(...) reconhecendo que os réus praticaram em concurso um crime de homicídio contra Isabella Oliveira de Melo, pessoa menor... Desculpe, Isabella Oliveira Nardoni...” pareceu ter passado desapercebido pela ansiedade do público.
“(...) passo a decidir que essa pena seja imposta a cada um dos acusados em relação deste crime do homicídio pelo qual foram considerados culpados pelo conselho de sentença”. Palmas, gritos e assobios. Confesso que essa reação do público me impressionou. Entre palavras como frieza, insensibilidade e desequilíbrio emocional, Fossen foi dissertando sobre o caso, citando os diversos fatos que contribuíram para a pena.
A essa altura, os transeuntes já estavam parando nas barracas próximas para ouvir o tempo de reclusão de ambos. “Assim sendo, (...) tal compromisso no inciso quinto no parágrafo segundo, artigo 121 do código penal, no montante de um terço, o que resulta em 16 anos de reclusão para cada um deles.” Mais gritos e aplausos. “Só?! Mas eu achei pouco pelo...”, o raciocínio condenador da garçonete foi interrompido por um “shi!” de alguém que provavelmente sabia que havia mais agravantes a serem adicionados. Fala, fala e fala, mais 21 anos na pena dos réus. “Isso, coisa boa, mas ainda é pouco!”. Mais um terço para Alexandre por ser genitor. “Ah, ele é pai né, isso piora.” Tão vidrados quanto uma final de Big Brother, último capítulo da novela das oito e uma final de copa do mundo, chega enfim o momento mais esperado. Quantos anos pegaram? Então, na terceira e última etapa, sendo adicionado mais um terço para ambas as partes, a pena resultou em 31 anos, um mês e dez dias para Alexandre Nardoni (gritos) e de 26 anos e oito meses para Anna Carolina Jatobá em regime fechado. “Ah, delícia! É hediondo! Vão ter que cumprir fechado!”. Aparecem imagens das pessoas à frente do fórum. Uma criança rindo e aplaudindo, incentivado pela mãe.
Parecia mais uma noite de janta com a família na Feira Central. Barulho de garfos, pratos e pessoas conversando soavam com monotonia. Uma garçonete cuidava a pequena televisão disposta estrategicamente à frente da cozinha. De repente, toca aquela música do Plantão da Globo, aquela que antecedeu grandes tragédias que sempre causa certa inquietação e curiosidade nos telespectadores. No meio do silêncio formado pela expectativa das pessoas, soa a voz formal de William Waakc. “Corre aqui!”, fala sussurrando e gesticulando energeticamente para o amigo a garçonete, que agora já estava colada na televisão.
“Aumenta aí, aumenta aí!”, as pessoas, que agora pararam totalmente com o que estavam fazendo, pediam insistentemente. Quando a voz do juiz Maurício Fossen lendo a decisão dos jurados surgiu em meio ao silêncio dos jornalistas, a moça que ia dar a garfada se posicionou para ouvir melhor. “O ventilador atrapalha!”.
“O juiz Maurício Fossen está começando neste momento no fórum de Santana em São Paulo a leitura da sentença de Anna Carolina Jatobá e Alexandre Nardoni”. Três pessoas se levantaram para ouvir melhor o juiz. Nunca imaginei que a feira pudesse ficar tão silenciosa. Nas outras barracas, até os cozinheiros já fritavam e coziam displicentemente. Pernas inquietas, cabeças estáticas. O som da TV realmente não ajudava.
O silêncio se intensificou quando apareceu a foto de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá juntamente com as palavras “Leitura da sentença do caso Isabella” em destaque. Após uma breve fala do juiz que não interessava nem um pouco as pessoas ao redor que só resmungavam “anda logo...”, o juiz ter dito “(...) reconhecendo que os réus praticaram em concurso um crime de homicídio contra Isabella Oliveira de Melo, pessoa menor... Desculpe, Isabella Oliveira Nardoni...” pareceu ter passado desapercebido pela ansiedade do público.
“(...) passo a decidir que essa pena seja imposta a cada um dos acusados em relação deste crime do homicídio pelo qual foram considerados culpados pelo conselho de sentença”. Palmas, gritos e assobios. Confesso que essa reação do público me impressionou. Entre palavras como frieza, insensibilidade e desequilíbrio emocional, Fossen foi dissertando sobre o caso, citando os diversos fatos que contribuíram para a pena.
A essa altura, os transeuntes já estavam parando nas barracas próximas para ouvir o tempo de reclusão de ambos. “Assim sendo, (...) tal compromisso no inciso quinto no parágrafo segundo, artigo 121 do código penal, no montante de um terço, o que resulta em 16 anos de reclusão para cada um deles.” Mais gritos e aplausos. “Só?! Mas eu achei pouco pelo...”, o raciocínio condenador da garçonete foi interrompido por um “shi!” de alguém que provavelmente sabia que havia mais agravantes a serem adicionados. Fala, fala e fala, mais 21 anos na pena dos réus. “Isso, coisa boa, mas ainda é pouco!”. Mais um terço para Alexandre por ser genitor. “Ah, ele é pai né, isso piora.” Tão vidrados quanto uma final de Big Brother, último capítulo da novela das oito e uma final de copa do mundo, chega enfim o momento mais esperado. Quantos anos pegaram? Então, na terceira e última etapa, sendo adicionado mais um terço para ambas as partes, a pena resultou em 31 anos, um mês e dez dias para Alexandre Nardoni (gritos) e de 26 anos e oito meses para Anna Carolina Jatobá em regime fechado. “Ah, delícia! É hediondo! Vão ter que cumprir fechado!”. Aparecem imagens das pessoas à frente do fórum. Uma criança rindo e aplaudindo, incentivado pela mãe.
As pessoas na feira agora voltavam aos poucos a fazer o que estavam fazendo. O circo, como disse o advogado dos Nardoni, estava acabado. Aqui, me abstendo de qualquer lado, afirmo: esse foi mais um caso que a mídia conseguiu explorar e triturar em mil pedaços, até ficar um assunto esgotado, estourado como um filme exposto à luz, a ponto de um telespectador qualquer lá em Cabrobró– PE, chamar uma criança, até então anônima, pelo apelido de “bela”. “Todos nós condenamos. Por que criticar a mídia se ela fez o mesmo que nós?”, disse a estudante de direito Amanda Sabino, que viu a exposição midiática como positiva, uma vez que não deixou o caso “esfriar” e acabar sendo suavizado pelos advogados depois de muito tempo. “A mídia exagera e peca em muitos casos, mas esse caso já era escandaloso e chocante por si só”.
Pão e circo. Expor pessoas. Notícia x Show Business. O juiz deixou claro que os réus foram julgados rigorosamente e o regime será cumprido ao máximo previsto em lei frente às manifestações em massa a respeito do caso. Mobilizar a população infiltrando nas mentes “acompanhe, assista e opine junto conosco” distrai bem do que realmente importa. E o circo em Brasília? Talvez ainda falte o pão.